Miriane Willers
Responda rápido: vamos dançar?
Na maioria das vezes, acordes e ritmos, a música me remete à dança. Dança com o par escolhido ou como a bailarina da caixinha de música, girando até acabar a corda, num conceito concreto e belo da solidão. Dança artística ou simples divertimento. Do ventre, sensual e libertadora (será?). De rua, salão, pista improvisada, na areia da praia, em qualquer lugar.
Desde pequena a dança me fascina. Mas não se iluda: não sou pé-de-valsa. Aliás, sequer me arrisco no valseado. O que me atrai são as possibilidades, o movimento, a corporeidade, os efeitos e afetos conectados à dança. As palavras que com ela fazem par.
Dançautonomia. Permitir-se escolher com quem dançar. Ou optar por ficar sentada só observando os casais no salão. Sem consequências desagradáveis e obrigações impostas. Mais uma conquista feminina, pois nem sempre foi assim. Antigamente, a moça não podia recusar convite, muito menos convidar o rapaz para valsear. A dança significava não poder às mulheres. Na contemporaneidade – graças às nossas ancestrais, bruxas, feiticeiras e lutadoras – nos é permitido o movimento, a sensualidade, a expressão de emoções, dizer não. Nos é permitido a dançalegria, dançafago. Mas, a luta é permanente para termos o direito ao nosso corpo, nossa ideologia, nossa vontade, nosso desejo.
Dança-diálogo: a evolução dos pares na pista sinaliza comportamentos, (des)conexões, histórias recentes ou aquelas com as ranhuras do tempo. Olhos nos olhos: paixão. Rosto colado: proximidade, dançamor. Passos ritmados: elegância. Passos rígidos e descoordenados: distanciamento. Leveza e sorrisos nos movimentos: amizade e descobertas. E há os jovens, com sua própria linguagem corporal, liberando energia ao som do eletro hits, do funk, do rock, do samba e de tantos outros sons estranhos que sequer sei nominar. Há uma narrativa corporal diferenciada nos jovens. Inclusive, há aqueles que só se movem virtualmente, sentados em frente às telas: dançalienados, dançapagados.
Me vem à memória, outros tipos de danças. Do fogo, da chuva, da colheita, da gratidão. Rituais da floresta, que precisam ser reverenciados, pois imprimem ritmo à vida. Agora neste janeiro, impossível esquecer a dança das cadeiras, pós-eleições. Mudam alguns dançarinos, há competição por um lugar e o ritmo parece o mesmo.
O jazz segue tocando. Carménère chileno na taça. Pensamento longe. Um par dançando no salão...