Miriane Willers
— Pai, me ensina a andar de bicicleta?
— Só pedalar meu filho. Estou te segurando...
A bicicleta, invenção extraordinária da humanidade, vem sendo utilizada como transporte e brinquedo infanto-juvenil. Serve para prática de atividades físicas, passeios, mobilidade urbana, entrega das cartas amorosas – quase em desuso – e para competições. Para pilotá-la é necessário equilíbrio, ousadia e controle – o que nem sempre a gente tem.
Narra a história da bicicleta, que o invento se deu na década de 1890, na Europa. Naquele tempo era moderno meio de transporte, rápido, acessível e elegante. Chegou a ser apelidada de “ cavalo do povo”, pois garantia mobilidade à população menos abastada que não possuía cavalo ou carruagem. Para as mulheres, foi essencial, garantindo certa liberdade, autonomia, especialmente àquelas corajosas e ousadas que queriam ter voz na política. No final do século XIX, pelas mãos dos imigrantes europeus, chegou ao Brasil, especialmente em Curitiba, São Paulo e Porto Alegre. A partir de 1948, as marcas Calói e Monark eram a sensação dos brasileiros. No Natal, o lembrete: “ Não esqueça a minha Calói”. Quem tinha uma se destacava na turma da escola ou do bairro. Também a Monareta era sensacional! Quem não lembra? As novas gerações não sabem o que era aventura.
Aprender a pedalar era um processo meio complicado. Podia resultar em alguns tombos e escoriações, mas o risco valia a pena. Lembro que aprendi a pedalar numa velha Monark da família. Adolescente, pernas compridas, sentava no varão e tentava me equilibrar sobre as duas rodas. No desequilíbrio e perigo bastava colocar os pés no chão. O segredo é enfrentar os medos e ir estrada afora, em frente na vida.
A bicicleta torna tudo possível. Pessoas comuns, montadas numa bike, fazem jornadas extraordinárias. Atravessam o país de sul a norte; percorrem as Américas, a Africa do Sul, dão uma volta ao mundo. São inúmeras as histórias nas redes sociais. E tem aqueles que, como eu, preferem percorrer alguns quilômetros para relaxar, para lubrificar os joelhos, para respirar o ar do campo. Lembro aos leitores e leitoras que pedalar é recomendado para a saúde física, mental e emocional. Gera economia: andar de bicicleta não paga imposto ( que o governo não nos ouça!). É benéfico para o meio ambiente, não emite carbono, nem causa poluição sonora. Favorece a interação e convivência com a família e amigos; a prática de esportes radicais e competitivos. A bicicleta é símbolo de liberdade, igualdade e afetividade! Alguém ousa dizer o contrário?
—Theo, vamos andar de bicicleta...
O homem colocou o menino numa caixa na frente da bike – sem pressa, tudo planejado. Percorreu ruas, avenidas, passou por prédios, pessoas, árvores, pedras. A bicicleta sob controle, a jornada sob controle, a vingança descontrolada. Nada ouviu, nem sentiu, nem se comoveu. Numa loucurazinha insana – maiúscula maldade – o menino foi jogado da ponte e saiu voando, voando, voando... anjo disfarçado, até desaparecer. E a bicicleta? Até ela perde o sentido de existir, quando o homem rompe com o amor, os elos e as noções humanas.
( Crônica produzida no Circuito Virtual 2025, com a Curadoria do Rubem Penz)